"Amei as desaparições e agora o último rosto saiu de
mim.
Atravessei as cortinas brancas:
já só há luz dentro dos meus olhos."
Antonio Gamoneda
sábado, 23 de julho de 2016
Há uma Erva
"Há uma erva cujo nome não se sabe; assim foi a
minha vida.
Regresso a casa atravessando o Inverno: esquecimento
e luz sobre as roupas húmidas. Os espelhos estão
vazios e nos pratos cega a solidão.
Ah a pureza das facas abandonadas."
Antonio Gamoneda
minha vida.
Regresso a casa atravessando o Inverno: esquecimento
e luz sobre as roupas húmidas. Os espelhos estão
vazios e nos pratos cega a solidão.
Ah a pureza das facas abandonadas."
Antonio Gamoneda
Bato à Porta
"Bato à porta da minha solidão,
E ninguém abre!
Na grande noite que me rodeou,
Quem vinha ao meu encontro, desviou
A direcção fraterna da ternura…
Trevas — é o que ficou
Na concha de que fiz a sepultura."
Miguel Torga
E ninguém abre!
Na grande noite que me rodeou,
Quem vinha ao meu encontro, desviou
A direcção fraterna da ternura…
Trevas — é o que ficou
Na concha de que fiz a sepultura."
Miguel Torga
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Dentro de mim Solidão Levo
"Dentro em mim solidão levo,
Torre de cegas janelas.
Quando meus braços estendo
Abro-lhe as portas de entrada,
Abro caminho alfombrado
A quem quiser visitá-la.
Lembrança pintou os quadros
Que ornamentam suas salas,
Onde alegrias passadas
Com penas de hoje contrastam
Quão juntos ambos estávamos
Quem era o corpo? Quem é
A alma? Que morte amarga
Foi nosso adeus derradeiro!
Agora dentro em mim levo
Alta solidão delgada."
Torre de cegas janelas.
Quando meus braços estendo
Abro-lhe as portas de entrada,
Abro caminho alfombrado
A quem quiser visitá-la.
Lembrança pintou os quadros
Que ornamentam suas salas,
Onde alegrias passadas
Com penas de hoje contrastam
Quão juntos ambos estávamos
Quem era o corpo? Quem é
A alma? Que morte amarga
Foi nosso adeus derradeiro!
Agora dentro em mim levo
Alta solidão delgada."
Manuel Altoguirre
Teias de Aranha Penduradas da Razão
"Teias de aranha penduradas da razão
Numa paisagem de cinza absorta;
Já passou o furacão do amor,
Já não resta pássaro algum.
Tampouco folha alguma,
Todas vão longe, como gotas de água
De um mar quando seca,
Quando já não há lágrimas suficientes,
Porque alguém, cruel como um dia de sol na primavera,
Com apenas sua presença dividiu em dois um corpo.
Agora cabe recolher os restos de prudência,
Embora sempre algum nos falte;
Recolher a vida vazia
E caminhar esperando que lentamente se encha,
Se é possível, outra vez, como antes,
De sonhos desconhecidos e desejos invisíveis.
Tu não sabes nada disso,
Tu estás lá, cruel como o dia;
O dia, essa luz eu abraça bem apertado este triste muro,
Um muro, não entendes?,
Um muro diante do qual estou só."
Numa paisagem de cinza absorta;
Já passou o furacão do amor,
Já não resta pássaro algum.
Tampouco folha alguma,
Todas vão longe, como gotas de água
De um mar quando seca,
Quando já não há lágrimas suficientes,
Porque alguém, cruel como um dia de sol na primavera,
Com apenas sua presença dividiu em dois um corpo.
Agora cabe recolher os restos de prudência,
Embora sempre algum nos falte;
Recolher a vida vazia
E caminhar esperando que lentamente se encha,
Se é possível, outra vez, como antes,
De sonhos desconhecidos e desejos invisíveis.
Tu não sabes nada disso,
Tu estás lá, cruel como o dia;
O dia, essa luz eu abraça bem apertado este triste muro,
Um muro, não entendes?,
Um muro diante do qual estou só."
Luis Cernuda
sexta-feira, 15 de julho de 2016
Poemas de Desilusão e de Revolta III
"Porquê
a expiação
de um mal que não cometemos?
Porquê
arrastar sempre a grilheta
de um crime que nunca foi?
Porquê?
andar conformado, submisso,
dando a desculpa a si próprio
da explicação de tudo
numa história, aliás bela,
mas estranha,
de serpentes e maçãs..."
João José Cochofel
a expiação
de um mal que não cometemos?
Porquê
arrastar sempre a grilheta
de um crime que nunca foi?
Porquê?
andar conformado, submisso,
dando a desculpa a si próprio
da explicação de tudo
numa história, aliás bela,
mas estranha,
de serpentes e maçãs..."
João José Cochofel
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