quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Figuras

"A velhice é um vento que nos toma
no seu halo feliz de ensombramento.
E em nós depõe do que se deu à obra
somente o modo de não sentir o tempo,
senão no ritmo interior de a sombra
passar à transparência do momento.
Mas um momento de que baniram horas
o hábito e o jeito de estar vendo
para muito mais longe. Para de onde a obra
surde. E a velhice nos ilumina o vento.

   I
À noite, os animais que tinham ido
beber o brilho que lhe vem da noite,
paravam a cheirar. E a ouvir o ruído
crescer do sítio de onde corria a fonte.
À noite os animais eram antigos.
E, à volta deles, tudo o mais que fosse
assentava na sombra. E estendia um sítio
onde o tempo crescia para longe.

   II

A luz dos animais sobe da negra
solidão que os estrutura.
E os constrange à tristeza
dessa escuridão primordial que os funda.
A luz dos animais sobe. Segrega
o conciso halo de enxúndia
com que a lavração da gleba
percorre os membros da corpulência nua.
E a luz dos animais pára. Os assenta
dentro da exterioridade pura
de os vermos sós. Na certeza
do peso ruminante da estatura."
Fernando Echevarría
"Geórgicas"

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