ou na casca seca dessa árvore,
é o vento que uiva contra os vidros,
sobre a pegada da areia ou na terra mais dura,
no fumo que se te desfaz entre as mãos,
escreve, escreve, como se descobrisses ainda as palavras.
Escreve para peles ou pedras,
para brancos cavalos, para esses olhos
que nunca te olharam e que tu jamais olhaste.
Escreve sem orgulho, mas tão pouco com falsa modéstia,
que não foi em vão tua passagem pelo mundo.
Esquece a seguir tão estúpida frase
e olha para o mar, as velas desse barco
que vem resgatar-te, seu paciente cabecear sobre as ondas,
as luzes reflectidas na espuma.
E escreve – sobretudo – quando o vires afundar-se,
quando desaparecer como o sonho ou a bruma,
quando já não existir – pois é sabido que jamais existiu –
escreve e repete-o em voz alta para o surdo mar, para o céu distante.
Aprende assim, testemunha de cinza,
o final implacável de teu labor ilusório
e então, sem hesitar - que a mão não te trema –
escreve, escreve, escreve, escreve."
Juan Luis Panero
Nenhum comentário:
Postar um comentário