me obrigavam a trabalhar até tarde.
Quando chegava em casa, mamãe
tomava minha cabeça entre suas mãos.
Era um garoto que amava o sol e a terra
e os gritos de meus colegas no matagal
e as fogueiras na noite
e todas as coisas que levam à saúde e à amizade
e fazem crescer o coração.
Às cinco da manhã, no inverno,
minha mãe chegava à beira de minha cama
e chamava pelo meu nome
e acariciava meu rosto até despertar-me.
Eu saía à rua e apenas amanhecia
e meus olhos pareciam enrijecer-se com o frio.
Aquilo não era justo, embora fosse belo
ir pelas ruas a escutar meus passos
e sentir a noite dos que dormiam
e entendê-los como um único ser,
como se descansassem da existência,
todos no mesmo sono.
Chegava ao trabalho.
Então,
chegavam as mulheres.
Começavam
a esfregar em silêncio.
Vinte anos.
Fui
zombado e esquecido.
Já não compreendo a noite
nem o canto dos garotos nas campinas.
E, no entanto, sei
que algo maior e mais real que eu
existe em mim, vai em meus ossos:
Terra incansável,
firma
a paz que sabes.
Dê-nos
nossa existência a
nós
mesmos.
Antonio Gamoneda
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