domingo, 22 de março de 2015

Arte Poética

"Entre tantos ofícios exerço este que não é meu,

como um amo implacável
obriga-me a trabalhar de dia, de noite,
com dor, com amor,
sob a chuva, na catástrofe,
quando se abrem os braços da ternura ou da alma,
quando a enfermidade afunda as mãos.

A este ofício obrigam-me as dores alheias,
as lágrimas, os lenços saudadores,
as promessas em meio ao outono ou ao fogo,
os beijos de encontro, os beijos de adeus,
tudo me obriga a trabalhar com as palavras, com o sangue.

Nunca fui o dono de minhas cinzas, meus versos,
rostos obscuros escrevem-nos como atirar contra a morte."

Juan Gelman

Nenhum comentário:

Postar um comentário