domingo, 1 de novembro de 2015

Amor

"Amor, amor, amor, como não amam 
os que de amor o amor de amar não sabem, 
como não amam se de amor não pensam 
os que de amar o amor de amar não gozam. 
Amor, amor, nenhum amor, 
nenhum em vez do sempre amar que o gesto prende 
o olhar ao corpo que perpassa amante 
e não será de amor se outro não for 
que novamente passe como amor que é novo. 
Não se ama o que se tem nem se deseja 
o que não temos nesse amor que amamos, 
mas só amamos quando amamos o acto 
em que de amor o amor de amar se cumpre. 
Amor, amor, nem antes, nem depois, 
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras 
tudo 
o que no sexo é sexo só por si amado. 
Amor de amor de amar de amor tranquilamente 
o oleoso repetir das carnes que se roçam 
até ao instante em que paradas tremem 
de ansioso terminar o amor que recomeça. 
Amor, amor, amor, como não amam 
os que de amar o amor de amar o amor não amam."

Jorge de Sena 
"Peregrinatio ad loca infecta"

Nenhum comentário:

Postar um comentário