domingo, 31 de maio de 2015

Esta é a Cidade

"Esta é a Cidade, e é bela. 
Pela ocular da janela 
foco o sémen da rua. 
Um formigueiro se agita, 
se esgueira, freme, crepita, 
ziguezagueia e flutua. 

Freme como a sede bebe 
numa avidez de garganta, 
como um cavalo se espanta 
ou como um ventre concebe. 

Treme e freme, freme e treme, 
friorento voo de libélula 
sobre o charco imundo e estreme. 
Barco de incógnito leme 
cada homem, cada célula. 
É como um tecido orgânico 
que não seca nem coagula, 
que a si mesmo se estimula 
e vai, num medido pânico. 

Aperfeiçoo a focagem. 
Olho imagem por imagem 
numa comoção crescente. 
Enchem-se-me os olhos de água. 
Tanto sonho! Tanta mágoa! 
Tanta coisa! Tanta gente! 
São automóveis, lambretas, 
motos, vespas, bicicletas, 
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente, 
gente, gente, gente, gente, 
num tumulto permanente 
que não cansa nem descança, 
um rio que no mar se lança 
em caudalosa corrente. 

Tanto sonho! Tanta esperança! 
Tanta mágoa! Tanta gente!"

António Gedeão

Nenhum comentário:

Postar um comentário