sábado, 9 de maio de 2015

O Enterro de um Amigo

"Jogaram-lhe a terra numa tarde horrível
do mês de julho, sob o sol de fogo.

A um passo da sepultura aberta
havia rosas de pétalas apodrecidas,
entre gerânios de áspera fragrância
e flor rubra. 0 céu
puro e azul. Corria
um ar forte e seco.
Suspenso por cordas grossas,
os dois coveiros
fizeram descer pesadamente
o caixão ao fundo da fossa.

E, ao cair; soou com um baque duro,
solene, no silêncio.

Um baque de caixão na terra é algo
perfeitamente sério.

Sobre a caixa negra quebravam-se
os pesados grãos poeirentos.

0 ar erguia
da funda fossa o sopro embranquecido.

E tu, já sem sombra, dorme e repousa.
Longa paz a teus ossos.

Definitivamente,
dorme um sono tranquilo e verdadeiro."

Antonio Machado (trad Sebastião Uchoa Leite)

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