estes fragmentos de rocha quebrada
sorriram um dia e verteram lágrimas.
Nesta escura mancha de carvão,
provável brasa, agora, de estufa ou braseiro,
habitaram, povoados e rumorejantes
ramos,
pássaros - agudos incansáveis trinados,
expostos à luz ardente da primavera.
A vós, pedras, contemplo, esquecendo fastidiosas descrições
fósseis cobertos de fino pó, surpreendentes formas.
Quero crer que nem tudo está morto,
que um latejo de longínqua irmandade nos convém ainda.
Viro as costas a uma cautelosa vigilância
toco por um instante a vossa presença mineral
aquilo que talvez tenha sido
um trémulo peito de mulher ou áspera e vingativa mão.
fugaz cansaço, incompreensível eternidade.
É difícil aceitá-lo à luz do pálido esplendor
que a cortina coou, imaginar os vossos desejos,
as desajeitadas carícias, os vossos gritos de rebeldia face ao
destino
Passam rapazes de olhar enjoado,
estudantes apressados, intratáveis guardiões.
Volto, perseverante, a observá-los. Desejaria falar convosco
mas onde encontrar a palavra, a cálida sílaba que embeba
de humanos tremores o vosso coração disforme
-
cerrada matéria emudecida. Ouve-se logo uma campainha
soam palmas imperiosas, é chegada a hora do adeus.
Enquanto lentamente caminho para a saída,
para o sol nublado de uma manhã de Dezembro,
penso em nós, insensíveis próximos,
talvez nunca vencidos pela terra,
pois dela sois certeira semelhança.
Imagino-vos mais poderosos que o tempo não temido,
porque espíritos, plantas, hoje
me dais testemunho do seu inútil domínio."
Juan Luis Panero
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