quinta-feira, 30 de julho de 2015

Já não Serei Feliz

I


"Já não é mágico o mundo. Só fostes deixado.
Já não compartilhas da clara lua
nem dos jardins lentos. Já não há uma lua
que não seja um espelho do passado,

cristal de solidão, sol das agonias.
Adeus das mútuas mãos e as temperas
que cercavam o amor. Hoje só guardas
a fiel memória e o deserto dos dias.

Nada se perde (repetes vãmente)
Senão o que não tem e não há tido,
porém não é bastante ser valente

para aprender a arte do esquecimento.
Um símbolo, uma rosa, te desgarra
e tu podes matar uma guitarra.

II

Já não serei feliz. Talvez não importa.
Há muitas outras coisas neste mundo;
um momento qualquer é mais profundo
e diverso do que o mar. A vida é curta

e ainda que as horas sejam tão largas, uma,
escura maravilha nos busca tão certa,
a morte, este outro mar, esta outra seta
que nos livra do sol e a lua, em suma,

e do amor. A felicidade que me destes
e tomastes deve ser apagada;
o que era tudo tem que ser nada.

Só o que me resta é o gozo de estar triste,
este costume vão que me inclina
para o sul, para certa porta, para certa esquina."


Jorge Luis Borges

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